Friday, 9 October 2009

Padronizando as (x) e as (d) da vida

Um dia

Após uma semana de trabalho,

Sentei-me com uma folha em branco a frente.

Olhámos uma para a outra.
Primeiro sem paciência, depois com relutância, e só depois já vencida peguei na caneta.

Com a caneta penso: o tema será algo sobre o qual irei discorrer – mas o quê?

Penso no tempo.

Chuva, vento, neve ou sol, radiante ou envergonhado? Não.

Vivências, as temporais e as intemporais… o tempo… o calendário que temos como bónus por termos nascido.

Nós nem pedimos nada… mas lá vem a frase a “cavalo dado não se olha o dente”, e nós sem olhar o dente lá seguimos com ele, lado a lado.

Uns chamam-lhe cruz (x) outros dádiva (d).
Eu diria que a relatividade a que estão sujeitas ambas as terminologias é ténue, depende se esses “uns” se encontram em tempos gloriosos ou não.

Assim sendo, por constatação da realidade da vida, se pegarmos na agenda podemos resumir o nosso percurso com (x)’s e (d)’s.
Modelo objectivo mas, incompleto se lembrarmos uns quantos dias enublados que vamos entrelaçando (xººººdºººxºººxºººººººººd…).
Passo a esclarecer enublados, digamos: melancolia, solidão, loucuras demasiado loucas, trabalho, falta de sorte, falta de ânimo, falta de algo…


É precisamente nesta altura que me lembro de vos lembrar que este modelo se encontra também ameaçado pela relatividade dos conceitos.
Vamos ver se me faço entender: espreito pela janela, está um raio de sol, abro a janela, para mim está frio, não confiando levo o casaco e saio à rua. Mas ao meu lado vai um inglês em calções e t-shirt, e digo a berrar para dentro de mim mesma – estes “gajos” tomam drogas! – num pensamento mais que estereotipado.

Ok. Agora, objectivamente: entre a cruz e a dádiva, os limites são com cada um.

Ora sendo eu (dizem que) formada na área das ciências (confidenciando-me um pouco para alicerçar esta conversa tão fútil), começo a ser apologista da generalização e padronização deste modelo.
Digamos que a criação de um padrão, de uma escala cujos limites seriam (x) e (d) e entre ambos mais ou menos nuvens (ººº).
Escala essa que inclui-se uma descrição detalhada e alguns exemplos de situações concretas da vida.
Que fosse ajustada aos diferentes extractos sociais (explico, como compreendem quando entro numa loja da Gucci é me indiferente se já não têm o casaco que gostava, primeiro porque vou pasmar com todos - pelo menos quando vir a etiqueta – mas para outros isso pode ser uma tragédia igual à do “tsunami no submundo” parafraseando esses mesmos).
E que além disso se ajustasse às diferentes culturas (é que senão levasse o casaco naquele dia teria somado uma nuvem só pelo congelar º, e se apanhasse uma gripe então outras tantas ºººººº, mas o outro lá ia, no seu calor de Verão).

(após este discorrimento fútil, devo terminar de forma política, isto é positiva e sonhadora, para não usar uma palavra feia - mentirosa)

Voltando à escala,

Esta proporcionaria um levantamento de resultados objectivo e de confiança.
Usando os conhecimentos científicos actuais, criar-se-ia um modelo computacional, com base nas médias, nos desvios padrões e tudo o mais. Esse modelo possibilitaria a previsão das fases da vida, nomeadamente dos (x) e (d) atempadamente.

A generalização, a padronização torna tudo mais fácil. Ora retomemos a ideia do casaco, agora em Portugal (para descartar a interferência cultural) suponhamos saio à rua sem ele, mas ao meu lado vai um português em calções e t-shirt, e digo a berrar para dentro de mim mesma – “este vai pior que eu! Vais ter ºº com possibilidade de ººººº pela probabilidade de uma gripe mais forte que a minha!”.
A comparação medíocre da minha felicidade com a infelicidade dos outros (o dia a dia na sociedade em que vivemos) faria com que na avaliação final do meu dia em vez de º colocasse um d-.

Imaginem o quão interessante seria puder estudar a interferência da crise económica (as lojas da Gucci cheias de malas, ou dos que nos roubam) e das estações do ano.

Imaginem o quão interessante seria chegar ao fim do calendário, de forma mais esclarecedora, ao fim da vida, puxar pelos números e dizer, 20% da minha existência foram (x), 50% foram (d) e 30% (ººº).

Reavaliar 10% das (ººº) e dizer:
- Sim, posso dizer com confiança que 60% da minha vida foi uma dádiva, 30% uma mistura de algo ou falta de algo, e 20% o preço que tive de pagar pelo pacote completo.

Sinceramente.

Após uma semana de trabalho,
que tema mais estúpido.

Isto de ir discorrendo, sem padrão, resulta sempre em tempo perdido. Meu e vosso.

Peço desculpa, mas acreditem em mim: a culpa é da caneta!!!
(e sendo eu fruto da sociedade em que vivemos, 90% das culpas estão nos outros, esta foi só uma coincidência bastante provável)

Maria Inês Campos, 09 October 09

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